Nossa Senhora da Penha
- jcbcamara
- 24 de jun.
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(Espírito Santo – Brasil - 1558)
No ano de 1558, chegou à capitania do Espírito Santo o eremita português frei Pedro Palácios, uma bênção para o primeiro donatário da capitania, Vasco Fernandes Coutinho, que tinha muitas dificuldades com os índios, os quais assolavam as plantações dos portugueses, pelo que já tinha resolvido recorrer à religião para converter os índios e civilizá-los.
Frei Palácios erigiu logo um pequeno santuário em cima de um grande rochedo, nu e escuro, cuja base está sempre batida pelo mar. Esse primitivo santuário existe ainda hoje: é um pavilhão retangular de 15 palmos de altura, onde cabem apenas quatro pessoas. Conta-se que Pedro Palácios, ainda na Europa, tivera a notícia de um lugar belíssimo, na capitania do Espírito Santo, no cimo de um monte, em que duas palmeiras marcavam o lugar ideal para se construir um Santuário a Nossa Senhora. Veio atrás de seu sonho e o edificou, confirmando o verso do poeta português Fernando Pessoa: “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce”

Antes de iniciar a ermida a Nossa Senhora, Frei Pedro Palácios construiu, ao pé do rochedo, uma capelinha dedicada a São Francisco de Assis, provavelmente onde ainda está uma nova, no Campinho. Vivia de esmolas, rezava e ensinava a doutrina cristã. Dormia no chão da capela, acompanhado de seus animais e de seu amigo. Trabalhou na evangelização dos nativos, confessava-se e comungava com os jesuítas da Vila.
Auxiliado pelos moradores, por escravos e por índios, já devotos de Nossa Senhora, iniciou a construção da ermida, em 1566. Para que pudesse contemplar mais de perto a querida imagem da Mãe de Deus e tributar-lhe mais a miúdo suas piedosas homenagens, o bom religioso habitava uma cavidade do rochedo, de onde podia enxergar o pavilhão e a imagem.
Frei Palácios ocupava-se em catequizar os indígenas, tendo conseguido, graças a seu zelo, converter grande número deles.
Para obter maiores favores do céu para essa obra apostólica, resolveu mais tarde construir, em cima do rochedo, uma ermida ao redor de duas palmeiras, que era a única vegetação que havia no local. Aos troncos delas, encostou uma ara em que colocou uma imagem da Virgem, mais bem feita e maior, porém semelhante à imagem pintada no painel depositado no pavilhão.

Muito longa e dificultosa foi a construção dessa ermida, embora fosse de pequenas dimensões e os índios já convertidos auxiliassem frei Palácios. Para animar os piedosos operários, o céu fez nascer abundante fonte de água em cima do rochedo todo o tempo que durou a obra, apenas se acabou a ermida, cessou a fonte.
Os materiais de construção eram carregados em ombros até a raiz do rochedo e depois puxados para cima à força de braços. Segundo a tradição local, foi nesse acanhado recinto que frei Palácios colocou uma imagem de Nossa Senhora com o divino filho nos braços, na qual tinha grande devoção.
Foi essa tosca ermida que deu origem ao esplêndido santuário que hoje se admira no mesmo lugar, e a penha, a mesma em que foi colocada a primitiva imagem de frei Palácios, deu origem ao título Nossa Senhora da Penha.

Um dia, não o vendo em nenhum dos lugares que costumava percorrer, os moradores da vizinhança, alarmados, reúnem-se em grande número e correm ao morro da Penha, procurando-o primeiro na gruta que lhe servia de morada. Não o encontrando ali, o povo sobe o morro e abre a porta da ermida das palmeiras, e aí depara, com grande tristeza, com o corpo de frei Palácios sem vida, dobrado sobre os joelhos, reclinado sobre o altar, com a mão direita aproximada à imagem de Maria, a quem sempre tivera grande veneração e amor, e com a outra no peito, como quem remetia seu coração à augusta Rainha do Universo, ao mesmo tempo em que lhe entregava o último sopro de sua laboriosa vida. A placidez de seu rosto revelava que não lhe fora custoso o último alento, porque se finara com a consciência pura, como puros foram seus dias no mundo. Via-se ainda em seus lábios entreabertos a expressão de um delicioso sorriso: era o sorriso do devoto de Maria ao deixar os males desta vida para se reunir à celestial protetora que inúmeras vezes o protegera quando se metia pelas matas à procura dos indígenas.
Sua morte foi em 2 de maio de 1575, depois de 17 anos de santa vida passados entre a catequese dos índios e a oração, no morro da Penha.
Com o tempo, o número de romeiros que visitavam Nossa Senhora da Penha cresceu tanto que a ermida de frei Palácios tornou-se pequena demais para o culto. Edificou-se então outro santuário, um convento de religiosos franciscanos, para o serviço do povo, bem como vastas acomodações para o alojamento dos romeiros.
Em 1644, foi construída a nova igreja, transformando a capela existente em capela-mor. Em 1651, anexo à capela, no topo da rocha, foi iniciada a construção do convento. Era pequeno, servindo apenas para alguns moradores.
Em 1750, o convento foi remodelado e completado, ficando como o encontramos hoje. E o convento está aí, altaneiro, sendo luz na montanha, acolhendo os romeiros, especialmente durante a festa de Nossa Senhora da Penha, que se celebra na semana da páscoa.O convento também é chamado de Santuário do Perdão e da Graça, porque nesta casa muitos se encontram com Deus e consigo mesmos. O Convento da Penha foi tombado pelo IPHAN em 1943.

Nossa Senhora da Penha é a padroeira do Espírito Santo. Revestida de significados, a imagem de Nossa Senhora da Penha traz consigo as cores rosa, que representa a humanidade de Maria e o azul, sua divindade. Suas vestes inspiraram Dr. Jerônimo Monteiro, então governador do Espírito Santo, a estabelecer em 1908 as mesmas cores para a bandeira do Estado. Em 1947, quando a bandeira foi oficializada, o vermelho do manto da padroeira foi trocado definitivamente pelo rosa.
O Menino Jesus no colo de Nossa Senhora da Penha é a razão pela qual a Virgem Maria é Senhora, rainha e mãe da humanidade. Ele é seu Filho e, ao mesmo tempo, Criador. A imagem do Menino Jesus também carrega símbolos importantes como o cetro na mão direita do Menino Jesus, afirmando que Ele é o Rei.
Já o globo na mão esquerda do Menino Jesus nos recorda que é Ele quem sustenta o mundo e quem o mantém. A cruz sobre o globo terrestre nos fala que foi através dela que Jesus salvou toda a humanidade.
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