Como se explica que, tornando-se muito maior o papel de Nossa Senhora, cresça também consideravelmente o do demônio? A explicação está nos próprios fatos.
A partir do protestantismo a humanidade não tem feito outra coisa senão piorar; entretanto, a devoção a Nossa Senhora não tem feito outra coisa senão crescer prodigiosamente dentro da Igreja de Deus, nestes tempos. Os dois fatos são concomitantes. A teologia progride cada vez mais, no sentido de afirmar as grandezas de Nossa Senhora, e os verdadeiros fiéis, por sua vez, são cada vez mais devotos d'Ela.
Fora dessa ordem de coisas, contudo, o poder do demônio cresce assustadoramente. Estes dois progressos em sentidos opostos são incompatíveis, mas o fato de serem concomitantes tem certa lógica. À medida que a luta entre a Virgem e o demônio torna-se mais aguda, os filhos da Virgem dão-se mais a Ela, e os do demônio mais se dão a ele. À medida que os maus vão se tornando piores, os que perseveram fiéis, os que têm o heroísmo e a força de pertencer completamente a Nossa Senhora dentro das mais adversas circunstâncias, estes ficam também cada vez mais dominados, mais embebidos pelo espírito de Maria Santíssima. Temos então, através disto, uma explicação deste duplo fato: de um lado, o ódio satânico contra a Igreja, que cresce cada vez mais; de outro, a devoção a Nossa Senhora, que progride imensamente. Daí segue-se que a característica específica daqueles que devem viver nestas circunstâncias é que sejam devotos de Nossa Senhora.
Todos os que lutam contra o demônio, contra o poder das trevas, do não conformismo com o estado de coisas atual, todos devem ter, como característica própria, uma grande devoção a Maria Santíssima. São coisas forçosamente interligadas.
Os Santos dos Últimos Tempos
No tópico 54, São Luís Grignion começa a tratar, pela primeira vez, dos santos que, suscitados por Nossa Senhora, florescerão nos últimos tempos da Igreja, e que serão de uma santidade maior do que os de qualquer tempo anterior. São Luís Grignion, em tom profético, trata longamente destes Santos dos Últimos Tempos.
“Mas o poder de Maria sobre todos os demônios há de patentear-se com mais intensidade nos últimos tempos, quando Satanás começar a armar insídias ao seu calcanhar, isto é, aos seus humildes servos, aos seus pobres filhos, os quais Ela suscitará para combater o príncipe das trevas” (tópico 54).
Aparece aqui um terceiro elemento: haverá pessoas que, suscitadas por Maria de modo especial, farão a guerra ao demônio. Contra essas almas, Satanás levantará a mesma guerra que urde contra Nossa Senhora. Esses escravos de Maria, pela submissão e união a Ela, serão o Seu calcanhar, alvo das insídias do demônio, mas também instrumento para aniquilá-lo.
“Eles serão pequenos e pobres aos olhos do mundo, e rebaixados diante de todos, como o calcanhar; calcados e perseguidos como o calcanhar, em comparação com os outros membros do corpo” (tópico 54).
Fato terrível: a vocação do apóstolo de Nossa Senhora é ser como que o calcanhar do gênero humano, que o pisa e anda calcando-o. A vocação daqueles que são apóstolos de Maria Santíssima consiste em servir de calcanhar. De calcanhar ativo, que retribui os golpes.Se é bem verdade que ele é calcado, é dele a glória de calcar.E há uma cabeça que foi feita para ser por ele pisada: a de Lúcifer. Devemos estar à procura dessa cabeça, para pisá-la, com a graça de Nossa Senhora.
“Mas, em troca, eles serão ricos em graças de Deus, graças que Maria lhes distribuirá abundantemente. Serão grandes e notáveis em santidade diante de Deus, superiores a toda criatura, por seu zelo ativo” (tópico 54).
São Luís Grignion faz um outro prenúncio: os apóstolos dos últimos tempos serão santos excepcionais, como não há em nossa época e não houve no passado. Dizendo “superiores a toda criatura”, envolve pois as do passado. Serão Santos maiores do que todos os dos séculos passados. Deverão florescer no futuro, mas de sua santidade e de sua vocação participam desde já todos aqueles que batalham nesta mesma luta contra o poder das trevas.
“... e tão fortemente amparados pelo poder divino que, com a humildade de seu calcanhar, e em união com Maria, esmagarão a cabeça do demônio e promoverão o triunfo de Jesus Cristo” (idem).
É o final da profecia: haverá um período de justiça, alcançado por estes apóstolos. Eles esmagarão a cabeça do demônio.
Vemos, portanto, as características fundamentais desses apóstolos, postas por São Luís Grignion:
a) É uma raça espiritual, oposta e irredutivelmente adversa a Lúcifer e à raça deste;
b) São homens que viverão num estado de perseguição constante;
c) Serão chamados por Maria Santíssima, de um modo especial, a uma grande dedicação à causa da Igreja;
d) Acabarão por vencer, porque esmagarão a cabeça do demônio.São os traços distintivos dos Santos dos Últimos Tempos. Mas, como estes tempos já começaram (segundo a linguagem de São Luís Grignion, a sua época estava já dentro da perspectiva dos últimos tempos), os santos de nossa época estão já numa espécie de relação com os dos últimos dias da Igreja.
O santo de nossa época é, pois, o tipo do santo dos Últimos Tempos, descrito por São Luís Grignion, que ele apresenta como um fruto característico da devoção a Maria Santíssima. Há, portanto, uma conexão muito grande entre os últimos tempos e a nossa época, entre os Santos dos Últimos Tempos e os batalhadores da causa da Igreja em nossos dias.
Os Apóstolos dos Últimos Tempos
“Deus quer, finalmente, que Sua Mãe Santíssima seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi” (tópico 55).
Dizíamos acima que, nos últimos tempos, Nossa Senhora seria mais conhecida e mais amada. Neste tópico São Luís Grignion nos afirma que é agora, isto é, no tempo dele. Portanto, sua época já participa dos últimos tempos.
“E isto acontecerá, sem dúvida, se os predestinados puserem em uso, com o auxílio do Espírito Santo, a prática interior e perfeita que lhes indico a seguir” (tópico 55).
Eis o papel histórico da devoção que prega. É o meio pelo qual os predestinados da graça podem adquirir este espírito e colocar-se de acordo com a sua vocação. É a devoção que até aí conduz.
“E, se a observarem com fidelidade, verão então claramente, quanto lho permite a Fé, esta bela Estrela do Mar, e chegarão a bom porto, tendo vencido as tempestades e os piratas. Conhecerão as grandezas desta Soberana, e se consagrarão inteiramente a seu serviço, como súditos e escravos de amor” (tópico 55).
Aqui segue a descrição dos Apóstolos dos Últimos Tempos:
“Serão ministros do Senhor, ardendo em chamas abrasadoras, que lançarão por toda parte o fogo do divino amor. Serão sicut sagittæ in manu potentis (Sl. 126,4) flechas agudas nas mãos de Maria todo-poderosa, pronta a transpassar seus inimigos” (tópico 56).
“filhos de Levi, bem purificados no fogo das grandes tribulações, e bem colados a Deus” (tópico 56).
“... que levarão o ouro do amor no coração, o incenso da oração no espírito, e a mirra da mortificação no corpo” (tópico 56).
“... e que serão em toda parte, para os pobres e pequenos, o bom odor de Jesus Cristo; e para os grandes, os ricos e os orgulhosos do mundo, um odor repugnante de morte” (tópico 56).
“Serão nuvens trovejantes” (tópico 57).
“... esvoaçando pelo ar ao menor sopro do Espírito Santo” (tópico 57).
“... que, sem apegar-se a coisa alguma nem admirar-se de nada, nem preocupar-se, derramarão a chuva da palavra de Deus e da vida eterna. Trovejarão contra o pecado” (tópico 57).
“... e lançarão brados contra o mundo, fustigarão o demônio e seus asseclas, e, para a vida ou para a morte, transpassarão lado a lado, com a espada de dois gumes da palavra de Deus (cfr. Ef. 6, 17), todos aqueles a quem forem enviados da parte do Altíssimo” (tópico 57).
Os apóstolos que São Luís Grignion assim descreve são homens de um poder verdadeiramente terrível, que causam ao demônio um medo capaz de desfazer as suas tramas. Argutos, perspicazes e vigorosos, esses apóstolos são o protótipo do verdadeiro católico.
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